Rara Avis in Terris, JUVENAL, Sátiras, VI, 165

terça-feira, 23 de abril de 2024

23 de Abril - Sugestão de Leitura

 






    Esta obra de José Saramago, colectânea de seis contos que ainda seguem a norma gramatical, foi editada pela primeira vez em 1978. Exercício sublime de prosa poética a ecoar, ao fundo, alguns autores da América do Sul, como J. Cortázar ou J. L. Borges -  é pouco divulgado actualmente.



   
 O meu exemplar é de Abril de 1984 e mereceu um autógrafo de Agosto desse ano. Saramago era, às vezes, um rosto fechado de ironia e, isso, desagradava a muita gente, mas o seu brilhantismo estava nas ideias e nessa inigualável capacidade de criar distopias. O mundo era, então, reescrito com uma singularidade poética extraordinária.




    Um dos contos, "Embargos", serviu de guião a uma curta-metragem em 2010, mas nada iguala o prazer puro de ler o Autor. Não desmereço a linguagem cinematográfica, mas as palavras originais estão plasmadas nos livros - nada as substitui.


    Nota: só não me peçam que traia o Autor, lendo-o no AO de 1990.



quinta-feira, 18 de abril de 2024

Telurismo

 

Faisão, Alentejo, 2024

   
  Mergulhámos no Alentejo rural e profundo. Deslizamos entre flores da imensa tela alentejana. Perene de vida, a planura aconchega-nos os pensamentos. Anteu talvez nos ajude.
 Anda, sente comigo esta velha união do Homem à Terra, à maravilha que Gaia, a Mãe, nos concedeu. Quando foi que os humanos quebraram esse magnetismo primitivo de sentir os lugares? Brincas e dizes que eu, felina, ainda conservo essa reminiscência ancestral. Não sei...
 Talvez amanhã a trovoada se despenhe sobre esta terra imensa...sinto um desconforto súbito.
 As aves não se assustam à nossa passagem, nem se agitam, entretidas que estão numa busca qualquer. Telurismo sereno, harmonia secreta que nos une e revitaliza. 
 Aqui, subitamente, o Mundo ficou distante.
                

Faisão fêmea (faisã ou faisoa), Alentejo, 2024



terça-feira, 16 de abril de 2024

Prosas ao Suão OU o regresso ao início...

 

Cá de casa

    Voltei, meus @amigos, pois a Vida sempre clama por nós. Hoje, o clamor foi algo prosaico, pois tive que alterar o título do blogue, mais uma vez. O motivo será esclarecido em tempos por vir. O "Rara Avis" (título original) foi "vampirizado" como marca de vestidos e adornos de casamento - imagine-se! Passei a ter um número astronómico de visitas e muito spam à mistura. Como o meu objectivo nunca foi o de somar "visitas"...mudei o título.
    Agora, por o Sol ter chegado quente e de forma extemporânea ao Alentejo, ocorreu-me esse Suão que nos quebra os ossos. As Prosas, ao serão, que ouvíamos dos nossos ancestrais eram conversas que maravilhavam miúdas como eu... 
    Agora, que o mundo anda mais cinzento, prosemos ao Suão!

    Grata pela vossa compreensão e pelo apoio demonstrado.
    Tenham dias com saúde e luminosos.


NOTA: ALGUNS EMAILS DE AMIGOS CONVENCERAM-ME. VOU VOLTAR AO TÍTULO ORIGINAL, MESMO CORRENDO RISCOS...PEÇO DESCULPAS. 
DEVO TER SIDO AFECTADA PELO VENTO SUÃO, OU POR UM CERTO VENDAVAL...





quinta-feira, 4 de abril de 2024

quarta-feira, 20 de março de 2024

O Jardim

 

Cá de casa, 2024

Consideremos o jardim, mundo de pequenas coisas,
calhaus, pétalas, folhas, dedos, línguas, sementes.
Sequências de convergências e divergências,
ordem e dispersões, transparência de estruturas,
pausas de areia e de água, fábulas minúsculas.

Geometria que respira errante e ritmada,
varandas verdes, direcções de primavera,
ramos em que se regressa ao espaço azul,
curvas vagarosas, pulsações de uma ordem
composta pelo vento em sinuosas palmas.

Um murmúrio de omissões, um cântico do ócio.
Eu vou contigo, voz silenciosa, voz serena.
Sou uma pequena folha na felicidade do ar.
Durmo desperto, sigo estes meandros volúveis.
É aqui, é aqui que se renova a luz.

               
António Ramos Rosa, in Volante Verde


Alentejo, 2024